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Não! A resposta é rápida. Nós enfrentamos diversos desafios ao longo de cerca de um ano, das idas ao médico a viagens. Quando o estágio de convivência inicia, recebemos a guarda das crianças, o que nos torna responsáveis legais por elas. Mas entre o legal e o real há uma grande distância. Entre as situações que mais marcaram essa etapa, destaco duas que exemplificam bem a importância da sociedade estar preparada com mais empatia para encerar o processo de adoção.

A primeira situação marcante foi durante a primeira virose do pequeno. Ele acordou no meio da madrugada vomitando. Sem experiência em como lidar com a situação em casa, corremos para o pronto socorro. Documento de guarda na bolsa, carteirinha do plano de saúde na mão, fomos dar entrada no P.S. Se você já parou para prestar atenção, quando entramos numa unidade de saúde, a pulseirinha que colocam no nosso braço vem com o nosso nome e o da nossa mãe. No caso, o nome que constava no documento era ainda o da mãe biológica. Para nossa sorte, a atendente teve a empatia necessária! Sem maiores burocracias ajustou para que o nome que aparece na pulseirinha fosse o meu, numa forma de evitar constrangimentos desnecessários na frente da criança, durante o atendimento.

O que infelizmente não aconteceu na nossa segunda viagem de avião. Apesar de toda a documentação em mãos e de estarmos voltando para casa (ou seja, tá tínhamos feito um trecho da vigem), a balconista da companhia aérea simplesmente disse que o documento não tinha validade por ser de outro estado e que teria que averiguar com os superiores se nós poderíamos embarcar com as crianças, procedimento que segundo ela seria para “garantir a segurança dos menores, já que ela não nos conhecia”. Agora, imagine dizer tudo isso na frente das crianças! Minha filha de 11 anos, com capacidade suficiente para entender o que estava acontecendo, ficou desesperada. A preocupação dela era não conseguir embarcar conosco de volta para Manaus e ficar numa cidade estranha. Um verdadeiro gatilho para o sentimento de abandono. Depois de idas e vindas, a bondosa moça “deixou” que nós embarcássemos como uma “exceção”. Inacreditável. Se fosse um sequestro, teríamos seguido viagem. Então, se não é para confirmar de fato a veracidade dos documentos, porque fazer uma cena dessa na frente de uma criança que tudo o que menos precisa é ter novamente sensação de abandono? O resultado é que minha filha passou meses perguntando toda semana quando sairia o papel que a deixaria de vez com a gente.

Delicadeza e empatia são sentimentos que precisamos exercitar todos os dias!

2 Comments

  • Eu acompanhei essa história na sua entrevista com a Daniela Branches. Uma pena existir gente tão despreparada.

    • Luana Borba says:

      Oi, Júlia! Por isso tenho me dedicado a falar mais sobre o assunto, para que mais pessoas possam entender sobre adoção. Um desafio que cumpro principalmente por meus filhos, para que eles não tenham vergonha da história deles, que não deixem comentários abalarem a força e a verdade deles. Obrigada pelo carinho!

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